Carreira Pré e Pós Aposentadoria: como empreender novos caminhos

A longevidade dos trabalhadores, com a ampliação de expectativa de vida da população brasileira, tem se apresentado cada vez mais como uma questão de suma importância para todos nós.

A relação entre o trabalho e o sentido que cada pessoa tem ao acordar todos os dias e mover-se em direção a algo que lhe permite mostrar seu valor, manter-se ocupado e estimulado a explorar a mente, encontrar alternativas e superar desafios, é uma fonte de vitalidade. A perspectiva de envelhecimento, mudanças de hábitos, reorganização para conviver com uma nova realidade tende a gerar incertezas, questionamentos e impactos na autoestima e autoconfiança da pessoa, interferindo sobremaneira na saúde física e emocional.

É, também, incontestável a consciência do quanto é importante preparar-se para esta nova fase de vida. Diante da incerteza do tempo que cada pessoa terá de vida, se 10, 20, 30 anos ou mais após a aposentadoria, uma mudança na forma de pensar e agir torna-se imprescindível.

Muitas variáveis se apresentam frente à condução do projeto de vida e carreira individual e familiar, vez que as ameaças de perdas do poder aquisitivo pós aposentadoria são grandes. Para manter um padrão de vida, com atendimento das necessidades essenciais, muitos aposentados deverão repensar a ideia de afastar-se para descansar e se preparar urgentemente para trabalhar mais tempo, buscar com afinco recursos para complementar a aposentadoria tão sonhada.

Diante das decisões tomadas por organizações do setor público ou privado, com desligamento em números relevantes de profissionais na fase de pré-aposentadoria, inquietações quanto às reais possibilidades de permanência no mercado produtivo, para estes profissionais, são suscitadas.

Em decorrência da experiência com atendimento a profissionais acima de 50 anos de idade e em fase de pré-aposentadoria, com excelente nível de qualificação profissional, em pleno exercício de atividades produtivas, na maioria ocupando posição de liderança em organizações públicas ou privadas, constata-se que, mesmo conscientes da sua capacidade funcional, alguns questionamentos emergem quando o assunto é a aposentadoria. Destaca-se, a seguir, as dúvidas mais evidenciadas – o que e como o profissional aposentado pode fazer para:

  • Organizar uma nova rotina de vida e trabalho que responda às necessidades atuais, com vistas a manter-se saudável e elevar o nível de qualidade de vida;
  • Fazer a transição na carreira e vida pessoal, ser resiliente e ressignificar a nova realidade que aos poucos se instala no cotidiano;
  • Neutralizar o fantasma da solidão tão destacado e temido na pós aposentadoria;
  • Assegurar um grau de autonomia que o mantenha confiante e competitivo no mercado;
  • Se preparar para superar os obstáculos inerentes aos possíveis preconceitos, discriminação e intolerância do mercado, devido a própria idade e visão de mundo, tendências diferenciadas na interpretação da realidade e menor habilidade para lidar com tecnologia;
  • Elevar a autoconfiança e canalizar todo potencial para escolhas assertivas, com reinvenção contínua;
  • Minimizar os impactos, facilitar o convívio com situações de possível estresse e manter as capacidades de abertura mental, diálogo e interação positiva em ambientes com alta diversidade etária.

Dúvidas e questionamentos fazem parte da vida de todos nós, portanto nada que possa assustar ou desestimular os profissionais que se encontram nesta fase.

Porém, alguns fatores, se não trabalhados adequadamente, podem não só potencializar a insegurança como, também, colocar em desvantagem os profissionais na faixa etária de mais de 50 anos, dificultando a permanência no mercado produtivo. Exemplos:

  • O histórico daqueles que constituíram carreira em uma ou duas organizações, com poucas experiências com articulação no mercado, busca de recolocação e participação em processos seletivos, ou mesmo desenvolveram competências de gerir seu próprio negócio;
  • Mudanças permanentes no mundo, necessidade de renovação constante do conhecimento, habilidades e atitudes demandadas do trabalhador;
  • Competitividade com novas gerações com modelos mentais estruturados para o mundo digital;
  • Rupturas nas formas tradicionais de comunicar-se com o mercado, mostrar-se e ser visto enquanto profissional;
  • Mentalidade que associa sua identidade ao empregador, não percebendo que possui habilidades que poderão sustentar a modelagem de nova identidade para o futuro;
  • Resquícios de uma cultura adversa ao reconhecimento e valorização da capacidade produtiva dos profissionais nesta fase da vida.

Apesar dos fatores relatados acima, as possibilidades para manutenção ou reinserção desses profissionais vai depender muito da capacidade individual para ouvir e aprender, da persistência, foco nos objetivos pessoal e profissional, conexão com a dinâmica e volatilidade do mundo pós moderno.

Oportuno citar dados publicados no 8º Índice de Confiança Robert Half (ICRH) que aponta maior abertura das empresas para a inclusão de profissionais de 50 anos em suas equipes funcionais. Segundo o levantamento 91% das companhias contratariam um profissional com esse perfil. De acordo com o estudo as áreas mais propensas a receber um profissional com curso superior e nesta faixa etária, são: Administrativo -75%; Gerência – 70%; Contabilidade – 60%; Jurídico – 52% e Tecnologia- 35%.

Assim, na escolha de uma nova carreira, as chances de oportunidades de trabalho para estes profissionais, são maiores em posições onde questões sócio-emocionais são mais relevantes do que técnicas, onde o trabalho é mais intelectual que braçal, dentre outras.

Porém, para ajudá-lo na tomada de decisão frente a melhor forma de canalizar sua energia e mover-se em direção aos objetivos, alguns comportamentos irão lhe fortalecer e, com certeza, mantê-lo no controle desta nave, que é você:

10 COMPORTAMENTOS IMPULSIONADORES PARA EMPREENDER NOVOS CAMINHOS

1) Mantenha uma boa saúde, ânimo e disposição, cuidar-se é a primeira regra para uma longevidade produtiva e com qualidade de vida;
2) Saia da zona de conforto, valorize as oportunidades de ampliar a rede de relacionamento social e o net working;
3) Mantenha a autoconfiança e autoestima em alta, invista no seu autoconhecimento, vai ajudá-lo na percepção de novas e diferentes possibilidades e no direcionamento das escolhas em conexão com seus propósitos, com o que acredita e gosta de fazer;
4) Entenda que sozinho dificilmente alcançará seus objetivos, busque alianças e parcerias;
5) Acredite e mantenha foco nos seus objetivos, tome decisões apesar do medo de arriscar, comemore suas conquistas, realimente sua motivação interna permanentemente;
6) Mantenha viva a sua capacidade questionadora, investigativa e o aprendizado para toda a vida (lifelong learning);
7) Demonstre alta capacidade de adaptação e readaptação às necessidades de sua própria vida, encare as possibilidades de mudanças de área de atuação como fator essencial ao crescimento pessoal e renovação profissional;
8) Aceite e se comprometa com a revisão de crenças limitadoras, mantenha-se focado na busca de alternativas que promovam a superação dos impactos decorrentes desta fase da vida;
9) Elabore o seu Plano de Gestão Financeira, acompanhe com atenção e tome providencias sempre que perceba ameaças ao equilíbrio de suas contas pessoais e familiares.
10) Descubra se possui vocação para empreender, pode ser uma boa saída para voltar ao mercado. Esta escolha, no entanto, deve estar alinhada a um bom Plano de Negócio.

Por fim, acredite em seu potencial, mantenha-se confiante no futuro. Aposentar-se não é o final de uma carreira, poderá se constituir no início de uma gloriosa fase de sua vida, tanto no âmbito pessoal como profissional!

REFERENCIAS:

FRANÇA, L.; SOARES, D. H. P. Preparação para a aposentadoria como parte da educação ao longo da vida. Psicologia Ciência e Profissão, v. 29, p. 738-751, 2009;
COSTA, A., ROSA, A. M., OLIVEIRA, M. L. APOSENTA-AÇÃO: Programa de Preparação para Aposentadoria. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, v.13, p.123 – 134, 2007;
Paolini, Karoline Silva. Desafios da Inclusão do idoso no mercado de trabalho. Rev. Bras. Med. Trab., 2016 – Rio de Janeiro.
Revista HSM Management, nº134.

Maiza Neville

Especialista em Carreira, Consultor em Gestão de Pessoas por Competências, Professora, Coach e Diretora-Executiva da Damicos Consultoria em Liderança e Sustentabilidade.