No ano de 2023, a Damicos Consultoria completa 31 anos de mercado e nesta sua jornada tem atuado com projetos e atividades nas áreas de ESG, Cultura Organizacional e Gestão de Pessoas, tanto em organizações públicas, quanto privadas e não-governamentais em todo o Brasil.
Nestas ricas e diferentes vivências com organizações de diferentes segmentos, portes e estágios de maturidade de gestão, sempre percebemos uma correlação muito grande entre estes três grandes temas: ESG, CULTURA ORGANIZACIONAL e PESSOAS.
O ESG gostamos de definir como aquilo que uma organização faz, para maximizar os impactos positivos da sua atividade-fim e minimizar os impactos negativos desta mesma atividade, com foco no resultado do negócio e na sua contribuição para o desenvolvimento sustentável. No caso da cultura organizacional são os valores da organização traduzidos em decisões, relações interpessoais, forma de fazer negócio, exercício da liderança, condutas, comportamentos e relações com os stakeholders. E por fim no caso do tema gestão de pessoas, todos os processos ou sub-processos relacionados a relação da organização com os seus líderes e colaboradores, envolvendo recrutamento, seleção, desenvolvimento, promoção, avaliação de desempenho e muito mais.
Apenas se olharmos com mais calma estes simples conceitos que utilizamos neste artigo, fica claro a correlação entre estes temas e/ou processos organizacionais, tanto em aspectos tangíveis quanto intangíveis.
Um primeiro aspecto é que em todos os três se faz fundamental a coerência entre discurso e atitude, com muita transparência ao comunicar o porquê de determinadas decisões organizacionais de natureza interna ou externa. Não adianta disseminar valores da organização, se seus líderes não os praticam. Não adianta por exemplo, ter políticas de valorização e reconhecimento dos colaboradores, se os critérios são vagos ou subjetivos na hora de uma promoção. Não adianta ter o discurso da importância do meio ambiente, se nenhum esforço é feito para reduzir o impacto ambiental. Não adianta ter o discurso de parceria, se não se prática a relação ganha-ganha com seus fornecedores.
Um segundo aspecto é que o estilo e a prática de liderança, a forma como os colaboradores são tratados e o quanto um negócio pode ser fechado de forma ética ou não, passam pela cultura organizacional, as vezes até pela cultura dos fundadores, da alta administração e/ou das lideranças de forma geral. Portanto, se quero aperfeiçoar ou até transformar a gestão de pessoas na organização ou como o ESG vai impactar na estratégia e modus-operandi do negócio, precisamos trabalhar a cultura organizacional, a mudança de mindset do negócio e das suas lideranças.
Nesta linha muitas vezes nos perguntamos, vamos inserir o ESG na nossa cultura ou precisamos ter uma cultura sustentável? Temos uma cultura organizacional voltada para as pessoas ou as práticas de gestão de pessoas traduzem nossa cultura organizacional?
Elementos como o entendimento do real valor das pessoas para o sucesso do negócio e o quanto o ESG é visto como garantia da perpetuidade dos resultados do negócio traduzem um pouco o que estamos tratando neste artigo.
Também cabe aqui citar, um terceiro aspecto, que é a importância de um planejamento, de uma estruturação e de uma sistematização para trabalhar estes 3 (três) temas aqui citados. As organizações precisam evitar os modismos, agendas de mercado, práticas pontuais ou o “apagar de incêndios”. É necessário ter claro o objetivo principal, os passos a serem dados, os resultados e indicadores de gestão,
antes mesmo do discurso organizacional que estas dimensões serão prioridade da alta administração e na estratégia organizacional.
Quando as pesquisas apontam que grande parte das organizações entendem que sua cultura atual não favorece o negócio ou que o ESG é visto como prioridade pelo C-Level, mas, em nenhum momento isto é tratado como prioridade em termos de estrutura ou budget, isto só demostra a total falta de integração, coerência e sinergia entre ESG, Cultura Organizacional e Gestão de Pessoas.
Outro aspecto é a questão da necessidade imperiosa de conexão destes 3 (três) temas com o core-business da organização, com o seu estágio de maturidade da gestão e que realmente eles agreguem valor ao negócio. Quais são as prioridades em termos ambientais, sociais e/ou de governança considerando os impactos do negócio e quais são os temas de primeira grande naquele segmento ou mercado? Que cultura organizacional é realmente necessária para aquele tipo de negócio ou segmento que a organização atua e como trabalhar as peculiaridades do DNA Organizacional considerando isto? Que tipo de pessoas, que competências e que ambiente de trabalho realmente precisamos ter considerando o modus-operandi do nosso negócio? Como posso avançar para práticas mais modernas de gestão de pessoas, se na prática ainda temos o tradicional “DP”? Se minhas lideranças não têm clareza da cultura vigente da organização, como posso tê-los como embaixadores da cultura organizacional e exemplos desta cultura?
E por fim, um quinto e o último aspecto é que todos estes 3 (três) temas estão intimamente relacionados a governança da organização e ao seu nível estratégico. Será que o ESG irá avançar na sua organização sem o real engajamento da alta administração? Será que poderemos ter uma transformação da cultura vigente sem uma real mudança de mentalidade do Conselho e do time do C-LEVEL? Como posso ter práticas de gestão de pessoas que trabalhem o ser humano de forma integral, se as crenças na organização e particularmente da alta administração é que as pessoas são descartáveis e que diversidade é pauta de direitos humanos.
Após ler este artigo até aqui, tenho certeza que só fiz aguçar duvidas, perguntas e reflexões sobre a necessidade de se entender mais sobre ESG, Cultura Organizacional e Gestão de Pessoas, “de per si” em um primeiro momento, principalmente se sua caminhada profissional for mais cartesiana e se sua organização ainda vive na era dos tangíveis como solução para o sucesso do negócio.
Agora imagine o quanto é complexo e importante ter uma interseção, sinergia, coerência e integração entre estes 3 (três) temas. Da mesma maneira que apontamos e você pensou em diversos conflitos entre os mesmos, pense na força descomunal de trabalharmos ESG, Cultura Organizacional e Gestão de Pessoas de forma integrada e sistêmica.
Desta forma, o primeiro passo, é mapear e refletir como estes 3 (três) temas ou processos organizacionais são tratados em sua organização, qual real status dos mesmos, o que pode ser feito para potencializar os aspectos positivos já existentes e principalmente quem os lidera na sua organização?
Se você pensou no milagre da criação de uma área ou de uma Diretoria de ESG, Cultura e Pessoas, não deixa de ser um grande salto, mas, é muito mais que isto.
Fábio Rocha
Especialista em Carreira e Diretor-Executivo da Damicos Consultoria em Liderança e Sustentabilidade