Desde os meus 6 anos de idade, ou seja, desde que “me conheço por gente”, comecei acompanhar intensamente o futebol, dentro e fora do campo, jogando ou assistindo.
Meu avô paterno, Octávio Rocha, era um flamenguista inveterado, pois, apesar de ser mineiro da cidade de Ouro Fino e ter sido jogador profissional do Atlético-MG, a sua verve futebolística era rubro-negra. E ele também tinha a febre do futebol, pois, foi ele que me ensinou os primeiros passos no futebol, treinando comigo todos os domingos no Colégio Militar da cidade de Salvador. Domingo, o programa já era certo, acordar cedo, treinar e depois jogar o baba (pelada), como dizemos nós baianos, com garotos de todas as idades e aprendendo tanto as regras, as técnicas, quanto noções táticas de futebol.
Isto ocorreu entre 1978 a 1983, e se passaram mais de 34 anos e muita coisa mudou, em mim e no futebol. Não só no futebol, mas, no esporte como um todo.
Nos dias atuais, por exemplo, além de ser professor da disciplina gestão de carreiras de atletas e outras disciplinas em algumas pós-graduações de gestão esportiva, tenho também como hobby a leitura sobre gestão esportiva, como também tenho a honra de ser Conselheiro do Esporte Clube Bahia, minha grande paixão, iniciando meu segundo mandato após 3 anos e apesar de ter ganho um pouquinho de peso, risos… Continuo jogando bola aos finais de semana, deixando de ser um centroavante para ocupar funções mais defensivas que favorecem meu novo profile (perfil).
Falando dos dias atuais, o ambiente de gestão, dos investimentos, dos negócios, do marketing estão super-presentes em quase todos os esportes. Infelizmente até a famigerada corrupção chegou lá também.
Inspirado por estes 39 anos de vivência intensa com o esporte, em particular no futebol e após uma provocação de minha sócia, Maiza Neville resolvi escrever este artigo como o seguinte mote: Que lições e aprendizados poderíamos tirar do esporte?
Primeira lição: Talento apenas não garante sucesso na carreira.
Quantos jogadores talentosos não tiveram sucesso na carreira, nunca chegaram ao profissional ou destruíram suas carreiras após alcançar um relativo sucesso em campo.
Segunda Lição: Uma equipe forte favorece o individual.
Quantas grandes equipes no vôlei, basquete e futebol potencializaram a performance dos seus jogadores, jogadores até pouco talentosos, mas, que favorecidos pela coletividade do time, fizeram história no esporte.
Terceira Lição: Foco, disciplina e concentração fazem a diferença.
Quantos jogadores mesmo não tendo grandes talentos, por se dedicarem nos treinamentos, terem foco total na carreira, disciplina tática e grande concentração nos grandes jogos, fizeram e estão fazendo história nos seus respectivos esportes. Alguns até chegam a dizer, que Cristiano Ronaldo é muito mais exemplo de dedicação, treinamento do que puro talento.
Quarta Lição: Liderança se conquista com exemplo e inspiração.
Quantos jogadores já tiveram há chance de serem capitães em seus times, apenas, por serem acima da média tecnicamente ou serem estrelas dos seus clubes, mas, por não ter perfil comportamental adequado para liderar, não ser referência de bons exemplos, de respeito aos seus colegas, só tinham a posição formal de liderança, sem nunca tê-la exercido de fato.
Quinta Lição: Gestão de pessoas é alma de uma boa equipe.
Nos dias atuais e também no passado, mesmo sendo mais raro, pois, o talento individual se sobressaia mais nos esportes, quantos times conhecemos que o técnico é cada vez menos um mentor ou um dono da expertise técnica e cada vez mais um gestor de pessoas, sabendo conduzir e lidar bem com a diversidade de perfis, de estágios de carreira, de faixa etária, de habilidades, de respostas às motivações extrínsecas. Vide a carreira de Adenor Leonardo Bachi, mais conhecido como Tite, atual técnico da seleção brasileira.
Sexta Lição: Reputação e Credibilidade é um grande ativo.
Tanto se pensarmos nos profissionais do esporte, seja no campo da gestão ou da linha de frente (técnicos, preparadores físicos, etc.) quanto nos atletas, não temos dúvida da importância deste ativo intangível que é a imagem que os outros tem de si, para conquista de bons contratos, para lidar com boatos comuns a personalidades públicas, para dar peso positivo a ideias, comportamentos ou decisões destas pessoas. E isto também vale para as organizações esportivas, sejam as federações ou os clubes, que aumentam a sua atratividade aos talentos, facilita a busca por patrocinadores e ampliam a sua captação de torcedores, seguidores e/ou sócios-torcedores.
Sétima Lição: Planejamento gera resultados e melhores performances.
Muitas federações e clubes, ao investirem alto e pesado no planejamento, conseguiram grandes resultados, transformando o esporte em um país, ganhando competições internacionais, se tornando referência em valor da marca, se tornando uma potência econômica ou mercadológica. Basta conhecer um pouco do planejamento da seleção alemã para a última copa do mundo, da mudança radical no vôlei brasileiro a partir de 1994, da história de gestão do Barcelona e até a democratização do meu Bahia, de 6 anos para cá.
Oitava Lição: Gestão de Carreira é fundamental.
Quantos atletas conhecemos que terminam a carreira em uma situação deprimente, no sentido emocional ou financeiro. Quantos atletas não conseguem se preparar para o momento da parada e de início de um novo ciclo. Quantos atletas partem para internacionalização da carreira, sem estarem preparados para este desafio. Quantos atletas destroem sua carreira, já na primeira grande contrato.
Nona Lição: Comportamento e Equilibro Emocional fazem a diferença.
Sabe aquela expressão “eterna promessa” que fala daquele atleta que tem potencial, mas, não consegue decolar na carreira ou daquela expressão “fulano some em partidas decisivas”, ou seja, nos jogos decisivos a performance daquele atleta cai muito ou daquele atleta que nas divisões de base era uma grande promessa e ao chegar ao profissional, desaparece, não “desabrocha”. Todos estes elementos reforçam a importância de se trabalhar a questão emocional, do comportamento, de suporte psicológico para se ter sucesso em qualquer carreira, inclusive no esporte.
Décima Lição: Vida e Carreira são interdependentes e se influenciam mutuamente.
Quantos atletas não decolam na carreira ou destruíram suas carreiras por questões de sua vida pessoal, por decisões e/ou comportamentos “fora das quatro linhas” como se diz no futebol, ou seja, fora da sua rotina profissional. De casos tanto desconhecidos da grande mídia, quanto de casos desastrosos como o goleiro Bruno do Flamengo.
Sem dúvida, muitas outras lições podem ser tiradas deste emocionante, apaixonante e dinâmico mundo do esporte.
Estas são apenas algumas das muitas lições que o mundo da gestão e as pessoas podem tirar do esporte e você que lição pode tirar?
Fábio Rocha
Especialista em Carreira, Consultor em Sustentabilidade, Professor, Coach e Diretor-Executivo da Damicos Consultoria em Liderança e Sustentabilidade.